quarta-feira, 9 de maio de 2012
Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos
espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar
de ti, para cuidar de mim - para não querer, violentamente não querer de
maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra
escura. Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis,
desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem. Estou te querendo
muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te
mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.
Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito
lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se
perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro.
Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. — Caio Fernando Abreu
Aquelas pessoas
E existem aquelas pessoas, que por mais distantes que
estejam, ainda continuam perto. Aquelas, que passe o tempo que passar, serão
sempre lembradas por algo que fizeram, falaram, mostraram, ou nos fizeram
sentir. É isso. As pessoas são lembradas pelos sentimentos que despertaram em
nós, e quanto maior o sentimento, maior se torna a pessoa. — Caio Fernando Abreu
Nada de mau me aconteceria
Nada de mau me aconteceria,
tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra
pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa,
e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos (…) Traçando esboços, os
dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. — Caio Fernando Abreu
Que não suspeitará da tua
perdição, mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem
interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo se estás nela. Na
frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com a ponta dos dedos
o nascimento de novos fios brancos nas tuas têmporas, o percurso áspero e cada
vez mais fundo dos negros vales lavrados sob teus olhos profundamente
desencantados. Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro, sabes também
que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas
palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para
determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te
conduza ao céu ou ao inferno. — Caio Fernando Abreu.
Loucura, ilusão, delírio.
O céu tão azul lá fora, e
aquele mal-estar aqui dentro. — Caio Fernando Abreu
SENÃO ELE FOGE...
É preciso cuidado com o arisco,
senão ele foge. É preciso aprender a se movimentar dentro do silêncio e do
tempo. Cada movimento em direção a ele é tão absolutamente lento que o tempo
fica meio abolido. Não há tempo. Um bicho arisco vive dentro de uma espécie de
eternidade. Duma ilusão de eternidade. Onde ele pode ficar parado para sempre,
mastigando o eterno. Para não assustá-lo, para tê-lo dentro dos seus dedos
quando eles finalmente se fecharem, você também precisa estar dentro dessa
ilusão do eterno. — Caio Fernando Abreu
LOUCA DE AMOR
Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia
deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e
da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais,
objetivamente. Existia somente dentro dela.
MEDO....
Então, admitiu o medo. E admitindo o medo
permitia-se uma grande liberdade: sim, podia fazer qualquer coisa, o próximo
gesto teria o medo dentro dele e portanto seria um gesto inseguro, não
precisava temer, pois antes de fazê-lo já se sabia temendo-o, já se sabia
perdendo-se dentro dele finalmente, podia partir para qualquer coisa, porque de
qualquer maneira estaria perdido dentro dela. — Caio Fernando Abreu.
Eu me importo demais....
Eu me importo demais com pessoas de menos. Eu
choro demais por problemas pequenos. Eu tenho medo do que não existe. Eu sofro
de amor calada (o).
Caio Augusto Leite.
A cabana - Um livro que te propõe uma visão mais humana de Deus
A Cabana consiste num romance em que a filha mais nova
de Mackenzie Allen Philip foi raptada durante as férias em família e há
evidências de que ela foi brutalmente assassinada e abandonada numa cabana.
Quatro anos mais tarde, Mack recebe uma nota suspeita, aparentemente vinda de
Deus, convidando-o para voltar àquela cabana
para passar o fim de semana. Ignorando alertas de que poderia ser uma cilada,
ele segue numa tarde de inverno e volta a cenário de seu pior pesadelo. O que
encontra lá muda sua vida para sempre.
Num mundo em que a religião
parece tornar-se irrelevante, o livro A Cabana
invoca a pergunta: “Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que
não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo?” As respostas
encontradas por Mack surpreenderão você e, provavelmente, o transformarão tanto
quanto ele.
O morro dos ventos uivantes - Livro forte e encantador
Único romance escrito por Emily Brontë, O
MORRO DOS VENTOS UIVANTES, foi publicado em 1847 e atribuído a um certo Ellis
Bell. Hoje considerado um clássico da literatura inglesa, caracterizado como
uma história de amor amaldiçoado e de vingança, e visto como a mais intensa
história de amor já escrita na língua inglesa, recebeu fortes críticas no
século XIX, época em que foi lançado.
Um ano antes, as três irmãs Brontë
Charlotte, Emily e Anne haviam publicado uma coletânea de poemas em nome de
Currer, Ellis e Acton Bell. Nos círculos literários ingleses era crença
generalizada que as Irmãs Brontë e os Irmãos Bell fossem as mesmas pessoas.
No entanto, o simples crédito deu margem a
controvérsias: que Bell seria, realmente, qual das irmãs Brontë? O MORRO DOS
VENTOS UIVANTES já foi adaptado mais de vinte vezes para o cinema, rádio e TV.
A versão de William Wyler de 1939,
estrelada por Merle Oberon como Cathy e Laurence Olivier como Heathcliff, é
considerado um dos grandes clássicos do cinema até os dias de hoje, indicado
para sete categorias da mais importante premiação do cinema e vencedora do
prêmio por sua fotografia; as versões mais recentes são as de 1992, estrelada
por Juliette Binoche e Ralph Fiennes, e uma modernização para os dias de hoje,
produzida pela MTV em 2003.
Livro perfeito: UM DIA de David Nicholls
15 de Julho de 1988. Emma e Dexter
se conhecem na noite da festa de formatura. Amanhã eles seguirão caminhos
diferentes.Mas onde estarão nesse mesmo dia um ano depois? E nos anos que se
seguirem?Dexter Mayhew e Emma Morley se conheceram em 1988. Ambos sabem que no
dia seguinte, após a formatura na universidade, deverão trilhar caminhos
diferentes. Mas, depois de apenas um dia juntos, não conseguem parar de pensar
um no outro.Os anos se passam e Dex e Em levam vidas isoladas – vidas muito
diferentes daquelas que eles sonhavam ter. Porém, incapazes de esquecer o
sentimento muito especial que os arrebatou naquela primeira noite, surge uma
extraordinária relação entre os dois.Ao longo dos vinte anos seguintes, flashes
do relacionamento deles são narrados, um por ano, todos no mesmo dia: 15 de
julho. Dexter e Emma enfrentam disputas e brigas, esperanças e oportunidades
perdidas, risos e lágrimas. E, conforme o verdadeiro significado desse dia
crucial é desvendado, eles precisam acertar contas com a essência do amor e da
própria vida.Um dia é um fenômeno editorial no Reino Unido, sucesso absoluto de
crítica e público, e teve o roteiro adaptado para o cinema pelo próprio autor,
David Nicholls. O filme, dirigido pela cineasta dinamarquesa Lone Scherfig, que
também dirigiu Educação, traz a atriz Anne Hathaway no papel de Emma Morley.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
"Nem todo dia tem Sol, nem toda
sobremesa é cheese cake e nem toda relação homem e mulher é romance. E você vai
fazer o quê? Vai se matar por causa do cinza acima da sua cabeça? Vai tremer
hipoglicêmica e carente porque só sobrou torta holandesa? Vai se manter virgem
e intacta até aparecer o homem que vai te dar uma casa com cerquinhas brancas,
cachorrinhos e bebês? Claro que não, você vai viver a vida, curtindo o que ela
tem de melhor. E o que um bonitão que só quer te comer pode ter de melhor? Bom,
eu poderia fazer uma lista. Mas a droga do romance estraga tudo isso, a droga
dos filmes românticos nos enganam como as propagandas de cerveja que enchem de
gostosas os babacas segurando um copinho."
Eu desisto fácil, você sabe. E
talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse
barco, é só me pedir. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me
pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar
junto. Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que
vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças. Você tem que me prometer
que essa viagem não vai ser a toa..
meu eu que está em ti....
Meu eu está em ti
Eu tenho sede é de tua saliva,
suave.
Eu tenho pressa
dessa tua calma de três dias.
Meu sono está contido
na nossa noite de desassossego
Meu amparo
é teu sorriso de boca larga,
de pouco discurso e das palavras
certas.
E minha luz..
é conduzida por teus olhos, fundos,
profundos e que veem adiante.
Cinco dos meus cinco sentidos
ocupados por tua culpa.
minha fotografia emana é tua imagem
Teu saber esperar,
induz-me a viajar
apressadamente
à teu encontro.
Espero aproximar-se logo,
e compreendas que outra vez,
caminhei sem saber aonde ir
perdi-me nas duvidas, e volto.
Asseguro-te nunca mais desviar meu
querer.
Não batas à porta, o meu tempo se
faz teu.
Irriga-me da tua fonte de vida
plena.
Que todos os nossos abraços se façam
sem pressa.
E os beijos roubem-nos outra
vez a razão
que nos mede a vida.
que nos mede a vida.
que tu, saibas tomar conta.
Tomar conta do meu eu que está em
ti.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
"Fala baixinho, amor, que os trapaceiros estão por aí querendo descobrir esse elixir que
sai de nossos lábios unidos. Eu preciso ouvir outra vez suas palavras calmas e
pausadas sendo sussurradas em meu ouvido sem nenhuma interrupção. Deixa a luz
do quarto apagada, entra debaixo dos cobertores, porque a gente se vê melhor de
olhos fechados. Fecha as cortinas e vem se isolar da rua comigo. Faz muito
tempo que eu só quero existir para você."
Fernanda Melo
Faltam palavras, descrições, canções. Falta tanta coisa para
sentir o que um dia sentimos. Falta coragem de assumir,
coragem de esquecer, coragem de fazer diferente mesmo quando o que se sente
continua igual. E hoje, ao pensar no que escrever eu só consigo me lembrar de
uma frase:"Te amo tanto,
tanto, tanto que te deixo em paz." E sei que você vai
ler, e vai me dizer que leu e vai me perguntar se era pra você. E mais uma vez
vai me dizer que não quer me machucar. E eu vou entender. Não vou cobrar nada
porque já fomos longe demais. E no fundo eu só quero que você guarde um pouco
mais. E que daqui a muitos e muitos anos nossa memória consiga se
lembrar dos nossos jeitos, sorrisos e momentos.Que o tempo nos permita
alguns reencontros sem culpas porque é bom sentir sempre mais uma vez.Porque
mesmo a gente voltando para outros abraços só o nosso valerá a pena.
(Tati Bernardi)
LYA LUFT - CANÇÃO DAS MULHERES
Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços
sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora
batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com
minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou
bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se
aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim,
porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou
nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar
comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem
fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de
mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a
compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre
necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada
disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me
esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa:
vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.
Lya Luft
Um dia você vai encontrar alguém que te lembre todos
os dias que a vida é feita para ser vivida.
Alguém que é perfeito de tão imperfeito.
Alguém que não desista de você por mais que você tente afastá-lo.
Naquele dia que você não estiver procurando por ninguém,
naquele dia que você não ia sair de casa e acabou colocando
a primeira roupa que viu pela frente.
Quando você não estiver procurando, você vai achar aquela
pessoa que faz você sentir que poderia parar de procurar..."
(Caio Fernando Abreu)
os dias que a vida é feita para ser vivida.
Alguém que é perfeito de tão imperfeito.
Alguém que não desista de você por mais que você tente afastá-lo.
Naquele dia que você não estiver procurando por ninguém,
naquele dia que você não ia sair de casa e acabou colocando
a primeira roupa que viu pela frente.
Quando você não estiver procurando, você vai achar aquela
pessoa que faz você sentir que poderia parar de procurar..."
(Caio Fernando Abreu)
LYA LUFT - ÀS VEZES É PRECISO RECOLHER-SER...
"Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambigüidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.
Lya Luft
ARNALDO JABOR - O amor impossível é o verdadeiro amor
Outro dia escrevi um artigo sobre o amor. Depois, escrevi outro sobre sexo.
Os dois artigos mexeram com a cabeça de pessoas que encontro na rua e que me agarram, dizendo: "Mas... afinal, o que é o amor?" E esperam, de olho muito aberto, uma resposta "profunda". Sei apenas que há um amor mais comum, do dia-a-dia, que é nosso velho conhecido, um amor datado, um amor que muda com as décadas, o amor prático que rege o "eu te amo" ou "não te amo". Eu, branco, classe média, brasileiro, já vi esse amor mudar muito. Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico, um sonho político, contra o sistema, amor da liberdade, a busca de um "desregramento dos sentidos". Depois, nos anos 80/90 foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado, uma progressiva apropriação indébita do "outro". O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que "amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar na produção. A cultura americana está criando um "desencantamento" insuportável na vida social. O amor é a recusa desse desencanto. O amor quer o encantamento que os bichos têm, naturalmente.
Por isso, permitam-me hoje ser um falso "profundo" (tratar só de política me mata...) e falar de outro amor, mais metafísico, mais seminal, que transcende as décadas, as modas. Esse amor é como uma demanda da natureza ou, melhor, do nosso exílio da natureza. É um amor quase como um órgão físico que foi perdido. Como escreveu o Ferreira Gullar outro dia, num genial poema publicado sobre a cor azul, que explica indiretamente o que tento falar: o amor é algo "feito um lampejo que surgiu no mundo/ essa cor/ essa mancha/ que a mim chegou/ de detrás de dezenas de milhares de manhãs/ e noites estreladas/ como um puído aceno humano/ mancha azul que carrego comigo como carrego meus cabelos ou uma lesão oculta onde ninguém sabe".
Pois, senhores, esse amor existe dentro de nós como uma fome quase que "celular". Não nasce nem morre das "condições históricas"; é um amor que está entranhado no DNA, no fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, quase uma "lesão oculta" dos seres expulsos da natureza. Nós somos o único bicho "de fora", estrangeiro. Os bichos têm esse amor, mas nem sabem.
(Estou sendo "filosófico", mas... tudo bem... não perguntaram?) Esse amor bate em nós como os frêmitos primordiais das células do corpo e como as fusões nucleares das galáxias; esse amor cria em nós a sensação do Ser, que só é perceptível nos breves instantes em que entramos em compasso com o universo. Nosso amor é uma reprodução ampliada da cópula entre o espermatozóide e óvulo se interpenetrando. Por obra do amor, saímos do ventre e queremos voltar, queremos uma "reintegração de posse" de nossa origem celular, indo até a dança primitiva das moléculas. Somos grandes células que querem se re-unir, separados pelo sexo, que as dividiu. ("Sexo" vem de "secare" em latim: separar, cortar.) O amor cria momentos em que temos a sensação de que a "máquina do mundo" ou a máquina da vida se explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. Como disse Artaud, o louco, sobre a arte (ou o amor) : "A arte não é a imitação da vida. A vida é que é a imitação de algo transcendental com que a arte nos põe em contato." E a arte não é a linguagem do amor? E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos, dos grande beijos - eles podem ser enganosos. Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o sol entre os ramos das árvores ou entre as tranças da mulher amada e tudo parece decifrado. Mas, não se decifra nunca, como a poesia. Como disse alguém: a poesia é um desejo de retorno a uma língua primitiva. O amor também. Melhor dizendo: o amor é essa tentativa de atingir o impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.
Escrevi outro dia que "o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes".
Mas, o fundo e inexplicável amor acontece quando você "cessa", por brevíssimos instantes. A possessividade cessa e, por segundos, ela fica compassiva. Deixamos o amado ser o que é e o outro é contemplado em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de "compaixão" pelo nosso desamparo.
Esperamos do amor essa sensação de eternidade. Queremos nos enganar e achar que haverá juventude para sempre, queremos que haja sentido para a vida, que o mistério da "falha" humana se revele, queremos esquecer, melhor, queremos "não-saber" que vamos morrer, como só os animais não sabem. O amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver. Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o céu. Mas, como souberam os grandes poetas como Cabral e Donne, a plenitude do amor não nos faz virar "anjos", não. O amor não é da ordem do céu, do espírito. O amor é uma demanda da terra, é o profundo desejo de vivermos sem linguagem, sem fala, como os animais em sua paz absoluta. Queremos atingir esse "absoluto", que está na calma felicidade dos animais.
ARNALDO JABOR
Friedrich Nietzsche - A Tua Ponte
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida.
Ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva?
Não perguntes, segue-o!
LYA LUFT - ...PARA VIVER DE VERDADE...
"...Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a apena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."
Lya Luft
ARNALDO JABOR - CRÔNICA DO AMOR
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.
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