Que não suspeitará da tua
perdição, mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem
interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo se estás nela. Na
frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com a ponta dos dedos
o nascimento de novos fios brancos nas tuas têmporas, o percurso áspero e cada
vez mais fundo dos negros vales lavrados sob teus olhos profundamente
desencantados. Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro, sabes também
que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas
palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para
determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te
conduza ao céu ou ao inferno. — Caio Fernando Abreu.
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